segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O COMEÇO

Por Rodrigo Dourado (Diretor)

Quem vê CHAT hoje, não imagina que esse trabalho começou em março de 2009, quando eu e Wellington Jr. nos reunimos com o desejo de pesquisar algum texto para uma futura montagem que eu pretendia dirigir. Fazia anos que eu não dirigia um espetáculo. Desde 2003, quando montei "O mistério das figuras de barro", com texto de Osman Lins e Auricéia Fraga no elenco, pelo projeto O Aprendiz Encena (Centro Apolo-Hermilo), que minha parcela diretor estava adormecida. Ao longo desses 7 anos, dirigi algumas cenas curtas, como o monólgo "Ensaio", de Benjamin Bradford, com Henrique Ponzi no elenco, que participou do projeto Pochade, garantindo a  Ponzi o prêmio de melhor ator; e "Pizza, Coca e Crime: o dia em que Pai Ubu Marcola cagou no Brasil", que teve no elenco Greyce Braga e Marconi Bispo, uma adaptação libérrima de uma entrevista do traficante Marcola para a revista Caros Amigos, que integrou a mostra Curta Cena.


 

Nesse período também, exercitei mais minha parcela "Crítico", especialmente no site TeatroPE (http://www.teatrope.com/); jornalista, colaborando para a Revista Continente Multicultural e fazendo assessoria de imprensa para vários espetáculos e projetos como a ONG Escola Pernambucana de Circo; professor, dando aulas no Curso Regular de Teatro do Sesc Santo Amaro e Escola Sesc de Teatro/Piedade; ainda desempenhei as vezes de dramaturgista em montagens dirigidas por Wellington Jr., como "`Psicoses", de Sarah Kane; atuei em cenas curtas dirigidas por Breno Fittipaldi; e participei de várias comissões de prêmios e mostras por aí. Ah, também pari um mestrado em comunicação, com a dissertação "Mulheres com H: estereótipos ambivalentes, representações tensionadas e identidades queer no Programa de TV Papeiro da Cinderela".



Bom, voltando ao assunto. Eu estava no maior tesão de dirigir e tudo que tinha em mente era: preciso de um texto contemporâneo. Eu e Wellington lemos algumas coisas, Sarah Kane novamente, Caryl Churchil etc., mas ainda não estava ali o que procurava. Fuçando na internet, à procura de autores latinos, deparei-me com Gustavo Ott, um dramaturgo que disponibiliza em sua página toda a sua produção em espanhol e nas línguas em que foi traduzida. Comecei a ler os textos e aconteceu o encontro. Era aquilo que eu estava procurando. Uma dramaturgia forte, segura, bem urdida, e que tratava de questões urgentes. Li vários dos textos de Ott, interessei-me por alguns, mas foi com CHAT que o namoro se estabeleceu de vez. Um texto altamente híbrido e experimental, com enorme potencialidade teatral, poético mas com uma ancoragem firme no real e muito político.



Wellington também pirou na coisa. Danilo Tácito, ex-aluno e amigo que vinha dividindo comigo o desejo de realizar um trabalho, encantou-se pelo achado. E assim, sem um tostão no bolso e somente com o nosso desejo de fazer um teatro vivo, reflexivo, questionador, provocativo, reunimos o elenco. De início, chegaram Arthur Canavarro, Ana Dulce e Patrícia Fernandes. Todos ex-alunos que nas conversas fora da sala de aula, demonstravam grande afinidade com nosso projeto estético e político. Dulce foi levada pelo mar a Portugal e deixou nossa caravela. Mas enquanto esteve conosco, foi uma linda parceira e espero que ela possa  voltar a agregar-se. Por fim, juntou-se a nós Kiko Gouveia, aluno de artes cênicas da UFPE, que eu conhecera como estagiário do Sesc Casa Amarela e que vinha se lamentando da dificuldade em conseguir sua "turma" nesse "enorme mercado teatral do Recife" (palavras minhas). Kiko chegou como assistente de direção, mas logo reveleou seu desejo de atuar e foi atentido. Além de nós, juntaram-se ao grupo Dado Sodi, André George e Java Araújo.



Trabalhei na tradução incansavelmente durante dias (com ajuda de Wellington) e - embora ache que ela ainda tem problemas - começamos as leituras. Desde lá, passaram-se 1 ano e quatro meses (eu fico besta com o tempo!) de labuta, suor, alegrias, dores, descobertas, estudo, pesquisa, um dedicar-se permanente que nunca cessou em nós. Ensaiamos em Borderline, na minha casa, no Kabum!. Tivemos produtor, depois não tivemos. Quisemos estrear, mas desistimos. Marcamos datas que não foram cumpridas. Fizemos um ensaio aberto em dezembro de 2009 no Teatro Capiba, que nos deixou atônitos e nos ensinou muuuuuuuuuuuito. Gastamos dinheiro, fomos cerca de 574.639 vezes ao comércio do centro, pegamos ônibus, faltamos, chegamos atrasados, perdemos jogos da copa, assistimos o Brasil perder da Holanda juntos num "pega-bêbo" após um ensaio. Chegou Carlos Ferrera, um anjo nesse processo. Welington se juntou mais ainda. Fui para a BA estudar, trocamos muitos emails, nos xingamos, nos amamos, nos estressamos. E aí está CHAT. Esse filho, esse parto.

Ainda em processo, ainda em gestação, mas no mundo! Eu tenho um orgulho DANADO dessa PEÇA.

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